É chegado mais
um dos muitos fins. Aqueles que a gente guarda na memória pra recomeçar e fazer
tudo de novo e bem melhor. Foram nove dias que a cidade se veste com uma única
roupa: aquela que se guarda pros momentos mais especiais e, quando tira do
guarda-roupa, enche de graça até os olhos mais distraídos. Os nove dias são
capazes de manter consigo uma plenitude ímpar. É como se o ano começasse a
partir de agora.
A festa é feita
dos incontáveis sentimentos: os sorrisos que rasgam as faces rígidas, as lágrimas
que lavam as almas multicores, a fé que mantém erguida os espíritos e corpos
alheios, os reencontros que confortam os peitos ansiosos, os dobrados da
“bandinha” reverberando pelas ruas e ouvidos atentos. É aqui que contém a
mágica de todas as coisas: são as pessoas e suas sensações que deixam o cheiro
forte de todos os prazeres.
E quando finda
a última noite, quando os fogos iluminam o céu, muitas vezes, estrelado,
enche-se de saudade cada canto e cada espaço. Aquela melancolia que vai se
exalando na cidade deixa um certo charme que nos aperta o peito. Essa saudade
nos invade e nos faz perceber que cada momento valeu a pena. Faz-nos perceber que
o próximo ano é mais um ano que nos aguarda pra podermos, mais uma vez, sermos mais
felizes e completos do que nós mesmos queremos. Afinal de contas, saudade é
aquilo que o peito guarda, de um amargo jeito, e que se esvai como o suor, no
calor de cada abraço, de cada beijo, de cada troca de olhares.
Os olhos
cansados procuram algum dos rumos que guardara outrora. As bocas que se
encostaram durante os momentos mais frenéticos, agora procuram umas as outras,
de forma a querer provar mais uma vez o que antes foi bem passageiro. Os
próximos dias guardam o gosto doce que nos invade a alma e nos faz vê que cada
um que passa pelas calçadas vazias não é só mais um, mas sim aquele que também
fez parte dos momentos. Foram eles que fizeram parte de nós.
Nos instantes
mais marcantes, quando a procissão rasga a cidade, cada passo que se dá reflete
e ecoa a fé que cada um tem em si ou em algo que não tem explicação, mas nem
precisa explicar. Basta ter e sentir! Os pés se transformam em asas a flutuar
em um asfalto que mais parece nuvem e as mãos seguram suas devoções com a maior
força que o corpo já ousou fazer.
E assim, o mundo
segue. A cidade tira a sua roupa pra guardar, mais uma vez, no espaço que o
coração de cada um deixou exclusivamente pra isso. A falta já começa a dar os
nós na garganta. Mas esse gosto agridoce que a saudade nos faz saltar à boca
nos deixa uma única certeza: os momentos para serem vividos foram arquitetados
e erguidos em uma fé, devoção e amor, que no próximo ano se renova sem o mínimo
receio de existir.
1 comentários:
Sensacional,Parabéns!
Postar um comentário