domingo, 24 de outubro de 2010 1 comentários

A bailarina

É ela a entrar no espetáculo da minha vida
Encenando uma peça que eu fiz na luz do dia.
À noite, seus movimentos crus são tão claros
Que me trazem, em rodopios, o calor da alegria.

Não precisas de canção pra me fazer sonhar
Por entre os movimentos que só teu corpo faz.
Deixa que meu canto te carregue para o mar.
Quero que teu corpo se transforme em algo mais.

Chega bailarina pra dançar pelos meus braços.
Deixa que eu me faça, em um instante, o palco teu.
Quero os teus passos marcados nos meus passos.
Quero o teu corpo a acertar o alvo meu.

Desce do teu palco imaginário, bailarina,
Deixa eu te encantar.
Desce do teu céu de maravilhas,
Deixa eu ser teu par.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010 0 comentários

Poeta

Nas reticências do final de uma frase,
Eu penso em completar com melodias
Que não nos fazem compreende e não se casa,
Mas que comportam um fervor de alegria.

Se na ciência a exatidão é corrompida,
Na poesia a solidão é um motivo.
Como o poeta não consegue ser seu ímpeto,
Inventa frases que jamais podem ser ditas.

O coração de um poeta não é seu.
Não pode ter um sentimento que sonhara.
Se assim, como um abismo fosse ser,
Não traduziria todos os medos que cantara.

As incompletas frases tortas no papel
Deixam claro o que nunca percebeu:
Que no azul descrito em todo o céu
Resumiu-se ao amor que não era seu.
segunda-feira, 18 de outubro de 2010 1 comentários

Inconvenientemente bem vindo

Amor, quando é amor, tem que vim de uma vez. Sem pedir licença, sem procurar espaço, sem ao menos te conhecer. Não adianta vir montado a cavalo. Se for assim, a gente consegue entrar em um caminho bem apertado que ele não vai conseguir entrar. Não adianta ser gentil, ser solícito. Não! O bom do amor é a falta de escrúpulos que ele tem para com todas as regras que a gente mesmo constrói para criar uma ordem em nossas vidas.
 O amor tem que ser mal educado: chega, diz oi, senta no sofá, apoia os pés na mesa de centro e, quando você menos percebe, lá está ele, pedindo até uma cervejinha. Aí a gente se rende, vê que não adianta colocar vassoura atrás da porta, nem mesmo sair de casa, com a desculpa que tem que ir ao supermercado. A gente sabe que ele ainda vai estar lá, quando voltarmos.
O amor que é amor de verdade não tem preconceito. Não quer saber se é homem, mulher, bonito, feio, magro, gordo, ou mesmo algo que a gente pensa nem gostar. As vítimas e os alvos são pegos de tamanha surpresa que, em certos casos, a gente custa mesmo a acreditar.
O amor é o bicho mais sem vergonha que eu conheço. Ele não liga pra nada. O que quer mesmo é ver o estrago na vida de cada um. Aí nos faz de tolos, transforma-nos em coisas poucas, brinca com a gente, deixa cada um com uma cara de idiota; torna, quem o tem, a pessoa mais fraca que o mundo pode conhecer. Ao mesmo tempo ele nos fortalece, nos torna mais gentis, mais bonitos, mais pacientes, mais humanos. 
Agora, o mais engraçado é a semelhança entre todos os amores – óbvio, com as suas diferenças. Todo amor que eu conheço é igual. Parece até que não tem defeito. O que os difere são uns detalhezinhos que vão aparecendo aos poucos e dando um gosto ainda melhor em cada um: sãos os sem vergonha, os cafajestes, os imorais, os românticos de verdade, os não correspondidos, os traidores, os verdadeiros, e por aí segue. Se fosse para citar todos aqui, não sobraria espaço para mais nada.
Tem coisas nessa vida que realmente é complicada de se entender. Ninguém consegue perceber ou mesmo criar um antídoto que faça essa “coisinha” tão grande ganhar o seu espaço no lugar certo, sem preencher por completo a pessoa. Acho que deveria ter um compartimento secreto dentro de cada um para guardar o amor. Aí, quando a gente quisesse, o tiraríamos, aos pouquinhos e, quando faltasse a vontade, guardaríamos de volta. Assim, as coisas ganhariam uma forma mais simples de acontecerem. As coisas ficariam mais cômodas e a vida bem mais fácil...
Não! É melhor não. Se assim o fosse, perderíamos toda a graça que ele é capaz de nos dar. O bom do amor é a bagunça, é voltar a ser criança, é gostar de ser adulto, ver a vida se entregar e ficar, até o fim, de cabeça para baixo. O bom do amor é tê-lo assim: dando-nos ordens.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010 0 comentários

Simples assim


Mas para que tantos poemas,
Se lá fora existe a vida?
Devem ser para explicar o tédio
De encarar o dia-a-dia.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010 0 comentários

Sonho

Queria ver versos escritos nas árvores,
Em letras cursivas, nos troncos e galhos.
Poder recitá-los enquanto é dia
E tê-los guardados nas noites em claro.

Queria ver versos adornando o asfalto
Rasgando-lhe as trevas, salvando os passos
Dos carros que cortam, machucam e traçam
Todos os caminhos que eu quero passar.

Queria ver poesia em forma de nuvens
Tentando descer à terra por um único instante,
Beijando as águas com gosto de amantes
Dos lagos insólitos que guardo pra mim.

Queria rimar e criar um sentido lógico
Pra vida que guarda todos os segredos.
Descer das estantes os livros de modos
E ler o semblante que os olhos não vêem.
domingo, 10 de outubro de 2010 0 comentários

Arte

A poesia tem que ser curta, breve,
Que expresse o sentido das coisas
E guarde dentro dos dias e noites
As cores que os olhos recitam sem ver.

Os versos têm que vir regados de malícias.
Têm que ser completos, severos,
Que guardem seus gestos
Nas portas da vida.

A poesia tem que ser como sexo:
Rápida, intensa e que nos dá prazer;
Tanto para o autor que se entrega
Quanto para o leitor que a lê. 
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Testamento

Quando eu morrer,
Por favor, me enterrem em uma cova rasa.
Quero que aquele “todo” em meu sofrer
Se banhe, sem medo, de todas as lágrimas.

Quando eu morrer, quero versos em meu epitáfio;
Aqueles que falam em beijos e abraços
Que eu sempre guardei escondidos
Nos dias mais calmos e claros.

Em cima da terra, joguem cinzas de flores queimadas.
Não as quero sofrendo, nem sendo condenadas
A me adornarem enquanto descanso.
Pegue-as com jeitinho e presenteie as minhas amantes.

Com as mãos justapostas me entreguem aos vermes.
Deixe que minhas carnes sirvam-lhes de comida.
Agora, o corpo não mais importa, nem serve.
Tudo que eu deixo e guardo são só poesias.
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Recado

Certo, senhores poetas,
Que tragam, então, vossas poesias.
Iludam-nos com verbos sucintos e vivos
Que façam sentido a cada um dos dias.

Furtem-nos do direito de falar,
Para que nos entretenha em tuas palavras.
Não queremos ver cada dor passar;
Queremos percebê-las enquanto nos cala.

Não preciso entender aquilo que é dito.
Nem mesmo saber por que foram lidos.
Bastar embriagar-me as papilas da alma.

O gosto de cada palavra é lírico
E cada instante é mais do que vivo.
Basta dispor-se a ler.
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Ausência

Se queres ter a mim por inteiro,
Peça-me com jeitinho e em voz calada.
Deixe que eu perceba que o silêncio do teu seio
Tem aquilo tudo que me faltava.

Deixa que teu cheiro me encontre só
E que me abrace do início ao fim,
Que é pra que eu possa diluir a minha sorte em pó
Nas tuas lágrimas que dedicas a mim.

Quero que sejas verbo a ser conjugado
Em versos lindos que eu te dediquei,
Mesmo sem ter te encontrado.

Vem devagarzinho pros meus braços que são teus.
Sinta que a tua ausência ainda me maltrata.
Veja que o meu olhar agora se perdeu.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010 0 comentários

Nostalgia

A vontade de alguma coisa pairou sobre as minhas ideias. Daí, a minha vida passou em um filme preto e branco que eu nem lembro o nome. É engraçado como as coisas vão ganhando formas que, antigamente, nos nossos planos, vinham sempre prontas e aveludadas.
Podíamos abraçar, sentir o cheiro, colocar tudo em um recipiente tão grande que às vezes sobravam coisas fora do lugar. A gente pára, olha um pouco para trás e percebe que a vida não foi completamente em vão. Vemos os dias e as noites; as conquistas e as decepções; os amores e os ódios; as brigas e as reconciliações; a fé que tínhamos em tudo e a descrença em tudo que fizemos. É nessas horas que a cabeça parece pesar horrores. A gente deita na cama e parece não estar lá. O corpo se sente como se quisesse sentir só mais um minuto de tomento.
O quarto agora é só quatro paredes! Nada mais habita lá dentro, além de mim. Nem as baratas, os mosquitos, os lençóis, a preguiça. A liberdade tem um gostinho melhor, apesar de que nem sempre nos completa. Mas, o quarto, agora ganhou mais espaço. São ventos que entram e saem todos os dias. Sempre se renova! Sempre o preenche.
Aquele corredor que passava do lado nunca me levou a lugar nenhum, além do outro cômodo. As paredes limpas, virgens de coisas que nunca fizeram falta. O piso, tão limpo e brilhoso, só refletia o teto. Nem mesmo as pegadas de toda a minha vida, os caminhos que eu sempre trilhei, as coisas que foram deixadas para trás. Tudo foi apagado por um pano molhado e empurrado por um rodo. É estranho saber que tudo que foi feito se encerra assim: sem muito esforço. Mas, o mais legal de tudo isso, é saber que os restos e as coisas mais importantes ficaram presas nesse mesmo pano. Mesmo que se lave com muita força, é impossível livrar o tecido dos bons e maus cheiros que a vida insiste em manter.
A cama agora tem mais utilidades. Antes, servia apenas pra dormir e, poucas vezes, brincar. Agora se brinca muito e se dorme pouco. Os lençóis se entrelaçam por todo o colchão fazendo um manto por todo o seu espaço. Os travesseiros, com cheiro de sono, apenas recostam uma ou duas cabeças, dependendo do dia. Os pés, já carcomidos, apenas a mantém em pé por conta de alguma sorte. E isso é algo que nunca nos falta!
As paredes da sala – essas sim – têm muita vida! Os vários quadros trazem paisagens mortas; as várias vidas que entram e saem só trazem elas mesmas. Só ficam os seus cheiros e suas hastes penduradas em pregos enferrujados.
É assim mesmo! As coisas mais sem sentido acabam encontrando uma ordem em algum lugar. Mesmo que só finjam existir. Acaba a água, a eletricidade, a comida. As sombras se confundem aos buracos que, à noite, ninguém vê. Os postes ficam inertes, mas suas luzes atraem os insetos mais sedentos. O asfalto quente se refresca ao luar. E é nessas horas que a gente percebe que a vida não tem sentido e, se tivesse, seria muito chata!  
terça-feira, 5 de outubro de 2010 0 comentários

Só mais um


Agora falo com um mundo em minhas mãos:
Não faço mais parte de um simples mundo de vilões
Que nem mesmo um pensamento é tão simples como um tudo
E que o “todo” se resume a algumas ilusões.

Nunca pude perceber que a minha sombra é igual a tua
E que o meu medo não percebe que o teu medo é carne crua.
Para os outros que não podem chorar no vento,
Venho aqui chorar por todos que não choram por temer.

Um dia a chuva me falou bem baixinho:
“Meu filho, o vento sopra para o norte,
Quando o sul é só mais um barquinho.
Nunca espere que a maré traga mais sorte
Do que o vento possa dar em um suspiro”

Ainda era noite, e o casal lá na calçada troca carinhos.
E é engraçado como o tempo nunca passa
Para quem está sozinho!
Ou nem mesmo toca o céu em uma noite com tão brilho.
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Minha ânsia


Eu estive a ver navios...
Mareado, mal amado,
Sem atrito, sem navio
Eu estive mareado!

Eu estive perdido
Sem sentido, sem abrigo,
Sem sapatos, nem meus atos.
Como um soldado cansado e faminto.

Eu estou implorando o fim
Pra me levantar, pra me libertar
Do sofrimento, do sentimento
Da angústia ao me ver assim.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010 0 comentários

A carta

Um pouco de invenção para quem sonha.

Querido amor da minha vida,
Há quanto tempo o “nós” existe e só agora me dou o direito de demonstrar tudo aquilo que sinto. Não foi por falta de coragem. É que eu preferi esperar o momento certo e exato. Não queria que esse instante fosse só mais uma ocasião para dizer belas palavras, ou mesmo deixar exalar as frases que você quer ouvir. Não! Tudo que falo é de imensa vontade de dizer. E se isso te agradar, é por que ainda te conheço como antes. Quero que saibas que eu te amo. E que és o grande amor da minha vida. Se não foi o primeiro, foi o segundo, o terceiro e o quarto amor. És eterno! Também não quero que penses que escrevo esta carta por falta de coragem de falar no cara a cara. É que entregá-la perfumada em tuas mãos faz com que percebas que não sou só mais um. O romantismo pode se abalar em certas situações físicas. E o meu romance será para sempre teu.
Como tenho certeza que a mesma coisa aconteceu com você, eu também amei outras pessoas. Isso vem da natureza humana. A falta de autonomia em escolher quem vai amar é algo que me deixa ainda mais apaixonado por esse sentimento. Ninguém escolhe por quem vai gostar. Apenas ama! É uma coisa que não tem explicação, mas não precisa explicar. Basta ter e sentir.
Meu bem, essas palavras que deixo escapar propositalmente mostram como me sinto satisfeito em poder ter o direito de dizê-las. Sinto-me feliz em poder ver a lua clara iluminando a tua face doce e delicada, que carrega uma pureza só encontrada nas páginas de belos romances. São nas palavras daquelas lindas poesias que recitava para você que eu te encontro em tua ausência. E se a tua falta me dói, eu curo com força de te amar. E quando não estás comigo, eu posso ter o consolo de te encontrar todos os dias nos meus sonhos.
Amor, como eu me sinto poderoso em poder te ter todos os dias. Guardo em minha memória todas as vezes que eu acordava durante a noite só para te ver dormir. Que calma isso me traz. Teus cabelos encobrindo parcialmente o rosto, se espalhando pelo travesseiro e desenhando formas que eu tentava decifrar. Aquele feixe de luz que entrava pela fresta da janela e que deixa a mostra, no breu, o teu sorriso, quando tinhas aqueles lindos sonhos. Tua respiração calma, lenta que exalava um cheiro de rosas dispersas em um campo umedecido pelo orvalho. Teu corpo, fazendo movimentos harmônicos, se encontrava com o meu. Ah, que noites lindas e infinitas.
Eu tenho em minha mente que tu não me amas com a intensidade do meu amor. Prefiro ter em mim a certeza de que o meu sentimento é mais forte que o teu. Só assim eu posso me colocar na obrigação de te conquistar todos os dias; fazendo com que os teus momentos sejam os mais felizes de toda a sua vida. Entrego-lhe rosas para pedir o teu perdão por coisas que eu ainda nem fiz e nem pensei em fazer. Entrego-as para que possa matá-las de inveja com tua sublime beleza e de teu perfume real.
Hoje, eu me olho no espelho e vejo que com você eu consegui aquilo que eu mais quis na minha vida: amar. E eu amo... amo tanto que chego a chorar. E essas lágrimas que escorrem no meu rosto são a prova de que o que eu sinto é verdadeiro. Sempre quis viver o amor que os poetas tanto recitam. Aquele que faz viver e morrer; atormenta e acalma; dói e sossega; fere e cura; bate e afaga; ensina-nos e nos torna burros; faz amar e odiar por tanto amar. Ah, amor, com você meu jeito de ser é ser só teu.
Teus lábios quando tocam os meus, se entrelaçam em uma perfeita simetria. O melhor momento do meu dia é quando o meu corpo sente o calor do teu tomar conta de mim. Os teus olhos me olhando de longe conseguem ver nos brilhos dos meus tua imagem reluzente. À noite, eu olho para lua e espero ela se transformar em teu rosto.
Eu não entendo por que as pessoas insistem em ter vergonha de amar. Pois, para mim, se fosse possível, estaria neste momento escrevendo esta carta em um outdoor, para que todos pudessem me invejar por ter um sentimento tão puro e belo. Meu bem, minha vida agora é nada sem você. Viver só comigo mesmo é impossível. Meu corpo necessita do teu. E até no peito da minha alma também bate um coração por ti.
Uma vez, um certo cara que nem conheço, me disse que “o amor é apenas uma certeza que supomos.” Que tolice! Pois se o amor pode se resumir a isso, então irei supor o meu sentimento por você pelo tempo que o torne eterno.
Os motivos das nossas brigas eu deixo para depois. Prefiro só me lembrar dos meus erros, para que eu não cometa mais nenhum delito amoroso. Se alguma vez te fiz mal, desde já lhe peço desculpas. Se errei, foi por amar. 
Meu amor, paro por aqui para esperar que venhas ao meu encontro. Aguardo-lhe em minha vida onde quer que você esteja. Ainda não te conheço, mas espero com toda força que esse sentimento me desperta. Tenho certeza em dizer que, tomando uma frase do Cazuza, “os nossos destinos foram traçados na maternidade”. Só falta agora eu te encontrar na minha vida. Pois desde agora eu já te amo. Quando me ver passar, por favor, me reconheça.
Beijo!
Um alguém que te espera e que anseia em te conhecer!
 
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