quarta-feira, 14 de março de 2012 3 comentários

O que seríamos se não fossem as rosas?

Gosto de todos os tipos de rosas. As belas, as disformes, multicoloridas, as amassadas nas páginas dos livros, as sujas pelo tempo. Gosto ainda mais quando essas mesmas rosas são tidas como gente, ou vice-versa. Mas tenho um carinho maior pelas de coloração azulada. Não sei! A impressão que tenho é que Deus deve ter tirado do homem o seu lado feminino e tê-lo entregue de volta para que pudesse possuir um pouco da delicadeza que nos é necessário. Rosa azul, para os mais turrões, pode ser coisa de macho, por que não? Pode ser um presente que a terra nos dá antes de nos devorar.

       Nunca entendi a razão pela qual existe toda essa separação pelas cores. Parece preconceito inserido na flora. Nessas horas, deveria haver um daltonismo generalizado. Daí eu queria ver as preferências se manifestarem assim tão claramente, só pelas aparências. As rosas azuis também têm seu encanto, sua magia, seu perfume, sua personalidade. Rosa azul é igual a som de rádio: a gente gosta pelo simples fato de nos fazer bem e muitas vezes não entendermos.

Quando todas as rosas inventarem de ter voz e decidirem desabafar tudo que está engasgado em alguma parte delas, teremos, enfim, um verdadeiro movimento reivindicatório. As vermelhas serão acusadas por criarem um padrão de beleza diferente e que massacra e ofusca a beleza das outras cores. Parecido, assim mesmo, com coisa de gente. Aliás, a impressão que tenho é que rosa é uma “gente” que não anda só. Tenho pra mim que elas são bichos sensíveis e agressivos, feito mulher e homem quando inventam de se juntar. A razão de tanto espinho é o fato de querer estar sempre ao alcance de todos os olhares, feito coisa de “gente”, repito.

O que sei é que, sejam elas a cor que for, a forma que for, há em cada exemplar uma personalidade que só se pode encontrar numa única pigmentação. A sorte dessas outras rosas, incluindo as azuis, é que a gente gosta de vários tipos de personalidade. A gente só gosta mesmo quando o belo ou feio nos completa naquilo nos faz falta.
segunda-feira, 12 de março de 2012 0 comentários

Descrição

Não há nada mais poético do que a tristeza,
Já dizia um poeta sem escrúpulos.
Pois tolo era, até ver que as incertezas
Nada mais eram que os pedaços do seu mundo.

Poeta inteiro é aquele que divide
E se alimenta de toda dor alheia.
Não é poeta o sujeito que em vida
Nuca sofreu ou foi, contudo, uma pureza.

Sua poesia é carne que sangra em grande dor
Nos olhos carnívoros de todo leitor
A esperar sentir-se inteiro em cada palavra.

E quando encontra um pedaço que é seu
Ou uma rima que, por inteiro, o descreveu,
Sente um prazer por onde a pele não tragava.
domingo, 11 de março de 2012 1 comentários

Da dor oculta

Há quem não encontre razão em uma ferida
Tão quente ainda do seu golpe rápido,
Sentido na pele quando ainda calmo
Entregou às pressas toda sua vida.

Há quem sinta medo de não ver saída
Em cada noite escura que mora ao lado.
Esquecem-se todos que em todo abraço
Ainda se encontra um pouco de alegria.

Mas, mesmo assim, todo inverno machuca
Quando traz consigo a amarga chuva
E o rápido vento que fecha as portas.

Pois todo sentido terás quando o corpo inerte
Finalmente encontrar no seu caminho as vestes
Para se entregar de alimento às rosas.
 
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