quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Nostalgia

A vontade de alguma coisa pairou sobre as minhas ideias. Daí, a minha vida passou em um filme preto e branco que eu nem lembro o nome. É engraçado como as coisas vão ganhando formas que, antigamente, nos nossos planos, vinham sempre prontas e aveludadas.
Podíamos abraçar, sentir o cheiro, colocar tudo em um recipiente tão grande que às vezes sobravam coisas fora do lugar. A gente pára, olha um pouco para trás e percebe que a vida não foi completamente em vão. Vemos os dias e as noites; as conquistas e as decepções; os amores e os ódios; as brigas e as reconciliações; a fé que tínhamos em tudo e a descrença em tudo que fizemos. É nessas horas que a cabeça parece pesar horrores. A gente deita na cama e parece não estar lá. O corpo se sente como se quisesse sentir só mais um minuto de tomento.
O quarto agora é só quatro paredes! Nada mais habita lá dentro, além de mim. Nem as baratas, os mosquitos, os lençóis, a preguiça. A liberdade tem um gostinho melhor, apesar de que nem sempre nos completa. Mas, o quarto, agora ganhou mais espaço. São ventos que entram e saem todos os dias. Sempre se renova! Sempre o preenche.
Aquele corredor que passava do lado nunca me levou a lugar nenhum, além do outro cômodo. As paredes limpas, virgens de coisas que nunca fizeram falta. O piso, tão limpo e brilhoso, só refletia o teto. Nem mesmo as pegadas de toda a minha vida, os caminhos que eu sempre trilhei, as coisas que foram deixadas para trás. Tudo foi apagado por um pano molhado e empurrado por um rodo. É estranho saber que tudo que foi feito se encerra assim: sem muito esforço. Mas, o mais legal de tudo isso, é saber que os restos e as coisas mais importantes ficaram presas nesse mesmo pano. Mesmo que se lave com muita força, é impossível livrar o tecido dos bons e maus cheiros que a vida insiste em manter.
A cama agora tem mais utilidades. Antes, servia apenas pra dormir e, poucas vezes, brincar. Agora se brinca muito e se dorme pouco. Os lençóis se entrelaçam por todo o colchão fazendo um manto por todo o seu espaço. Os travesseiros, com cheiro de sono, apenas recostam uma ou duas cabeças, dependendo do dia. Os pés, já carcomidos, apenas a mantém em pé por conta de alguma sorte. E isso é algo que nunca nos falta!
As paredes da sala – essas sim – têm muita vida! Os vários quadros trazem paisagens mortas; as várias vidas que entram e saem só trazem elas mesmas. Só ficam os seus cheiros e suas hastes penduradas em pregos enferrujados.
É assim mesmo! As coisas mais sem sentido acabam encontrando uma ordem em algum lugar. Mesmo que só finjam existir. Acaba a água, a eletricidade, a comida. As sombras se confundem aos buracos que, à noite, ninguém vê. Os postes ficam inertes, mas suas luzes atraem os insetos mais sedentos. O asfalto quente se refresca ao luar. E é nessas horas que a gente percebe que a vida não tem sentido e, se tivesse, seria muito chata!  

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